EDITORIAL


Armindo Veloso
 

Renascimentos

Li nas férias um livro de Ken Follett – escritor britânico que já vendeu mais de cem milhões de cópias dos seus trabalhos – intitulado ‘A Queda dos Gigantes’.
A essência das quase mil páginas – o problema do manuseamento de um livro destes não é de somenos. As editoras deveriam ter isso em atenção - é a primeira guerra mundial.
A maior parte de nós tem uma ideia mais ou menos clara acerca da história da primeira guerra mundial. Porém, quando ela é historicamente relatada com romance pelo meio é mais facilmente apreendida.
Os “caprichos” pelo lado dos “ofendidos”: Alemanha e Áustria-Hungria, deram origem à primeira guerra. Os “caprichos” dos vencedores “recreados” no tratado de Versalhes foram a semente da segunda guerra mundial, muito mais presente no conhecimento generalizado das populações.
Pois é. Se a humilhação imposta à Alemanha naquele tratado foi a semente da segunda guerra mundial, os resultados pós segunda guerra com, também, muita humilhação à mistura, não terão sido a semente para o renascimento da grande Alemanha, mais tarde reunificada, que hoje temos?
Pelo lado da economia, para já só (??!!), a Alemanha está a impor as suas regras ao resto da Europa.
Mais, se se dizia que a senhora Merkel – personificação do ‘mal’- iria perder as eleições, fruto do seu pensamento, inabalável, económico/financeiro, as últimas sondagens, a três semanas das eleições, dizem categoricamente o contrário.
Como será o futuro com uma super Alemanha a comandar os cordelinhos da Europa?
Não se deve nunca humilhar um derrotado.
Se ele for de “boa cepa” renasce mais forte.
Então duas vezes!...

Até um dia destes.  

CASTELO DE AREIA

Incêndios
Até final de Agosto, os incêndios florestais consumiram uma área de mais de 94 mil hectares, mais 25% comparativamente a igual período do ano passado. Os dados foram revelados pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF). Um relatório provisório dá conta de que, até 31 de Agosto, o número de ocorrências foi menor que em igual período de 2012 mas a área ardida foi superior. Números que merecem reflexão.

CASTELO

Bombeiros

Os últimos dias têm sido de intenso trabalho para os Bombeiros da Póvoa de Lanhoso. Homens e mulheres envolvidos numa luta intensa contra as chamas, na salvaguarda de pessoas e bens. O combate tem sido extenuante, com os incêndios a não dar tréguas. Aqui fica o nosso reconhecimento a todos quantos, diariamente, lutam para proteger pessoas e bens.

Taíde
Equipamentos da zona de lazer 
precisam de intervenção

Já ali funcionou o bar e os sanitários da Praia Fluvial da Rola, em Taíde, com o espaço a estar agora designado como zona de lazer, e um local que não dispõe de nadador salvador.
A beleza do local atrai muito veraneantes mas o estado do edifício de apoio, que agora se encontra ao abandono, fruto de actos de vandalismo do passado, tem merecido críticas.
Portas arrombadas, lixo no interior e um cheio nauseabundo é o cenário que ali se pode encontrar. Já aqui se falou do assunto em anos anteriores.
Num desses anos, a Junta de Freguesia e a Câmara Municipal procederam à reparação do espaço mas os actos de vandalismo continuaram e deixaram o espaço completamente destruído.
“Era bem melhor deitarem isto abaixo. É um triste cenário que aqui se encontra”, revelou um utilizador da zona de lazer, que não se quis identificar. Aqui fica o alerta a quem de direito.

Taíde viveu dias de intensas tradições
Bifes e melões são imagem de marca da Romaria de Nossa Senhora do Porto d’Ave

Falar na Romaria de Nossa Senhora do Porto d’Ave é falar na Romaria dos “Bifes e dos Melões”.
À forte componente religiosa, que traz à freguesia de Taíde devotos de vários pontos da região, junta-se a parte profana, com os bifes e os melões a serem imagem de marcada da romaria. A ‘Noite Gerações’ é outra das iniciativas marcantes dos festejos e tem sido carimbada pelo sucesso. Iniciada a 18 de Agosto, a Romaria de Nossa Senhora do Porto d’Ave teve o seu culminar no domingo, dia 1 de Setembro, dia principal dos festejos em que os actos religiosos, eucaristia e procissão, estiveram em destaque. De manhã, D. Manuel Linda, bispo auxiliar de Braga, presidiu à eucaristia religiosa e, de tarde, vários andores, ornamentados com flores naturais, e diversas figuras alegóricas integraram a majestosa procissão. O bom tempo trouxe muita gente até à romaria, com a procissão a merecer rasgados elogios.



‘Bifes à romaria’
para saciar o apetite

“O segredo é a qualidade da carne”, explica António José Sousa Silva, do Grupo Desportivo de Porto d’Ave, por ocasião da preparação dos famosos “Bife à Romaria”, o prato identificativo da festividade. No “comando” do fogão estava Conceição Ferreira. Aos bifes de qualidade, estes vindo do Talho Novo, da vila da Póvoa de Lanhoso, junta-se a cebolada e a batata cozida. O segredo? Continuam a dizer que é a qualidade da carne. Muita cebola, alho, louro, sal, um pouquinho de piripiri e tomate dão corpo à cebolada, à qual se junta a batata cozida e o bife frito, temperado só com sal. No espaço, promovido pelo Porto d’Ave, marcavam presença 110 quilos de bife, com o tamanho dos exemplares a causar admiração.

Crise também chegou
à venda dos melões

Depois do prato principal segue-se a sobremesa, com os famosos melões a deliciar os convivas. Este ano, os vendedores de melões marcaram presença em menor número.
A diminuição das presenças verificou-se, também, nos vendedores ambulantes. “É efeito da crise”, dizia um popular ao passar na Avenida do Arruado, no centro dos festejos. Ezequiel Brandão, vendedor da empresa “Aires Aguiar Mesquita”, de Famalicão.
“Já venho cá há cerca de 40 anos. Este ano, de um modo geral, o ano não foi muito bom para melões, devido às intempéries dos finais de Maio e início de Junho.
Houve dias em que as noites foram muito frias e durante o dia as temperaturas estiveram muito elevadas. Isso fez com que os melões se queimassem. Para o nosso meloal até correu bem mas a nível geral houve uma quebra de cerca de cinquenta por cento”, explica aquele vendedor, apontando que o preço do quilo do melão casca de carvalho se situa nos 5 euros, preço que se vem mantendo ao longo dos anos. Para a romaria vieram entre 200 e 300 quilos de melões, aos quais se juntam algumas melancias. Aqui, também se sente a crise e as vendas caíram bastante.

Primeiro dia de setembro foi trágico
Incêndios não dão tréguas aos bombeiros
Os últimos dias têm sido dias de intenso combate, com os incêndios a não dar tréguas aos bombeiros povoenses. Águas Santas, Monsul, Fontarcada, Verim, Friande, S. João de Rei e Travassos foram as freguesias mais fustigadas pelos incêndios. Na tarde de domingo, dia 1 de Setembro, algumas habitações na freguesia de Águas Santas e Monsul estiveram em risco. Valeu a intervenção dos Bombeiros Voluntários da Póvoa de Lanhoso que, com a ajuda dos populares, conseguiram dominar as chamas e proteger as habitações.
Com a ajuda de baldes e mangueiras e de um tractor, os populares foram combatendo as chamas que se aproximavam das moradias. O incêndio deflagrou já passavam das 17h30 e só foi dado como extinto pelas 0h24, de segunda-feira. Iniciado na freguesia de Monsul, o fogo estendeu-se até Águas Santas. No combate às chamas estiveram envolvidos 30 bombeiros da corporação povoense, apoiados por onze viaturas.
Têm sido dias de intenso trabalho para os bombeiros povoenses, que se têm visto a braços com várias ocorrências. Incêndio atrás de incêndio, com longas horas de combate ao fogo, tem provocado um grande cansaço aos homens cujo lema é ‘Vida por Vida’.
No dia 29 de Agosto, um incêndio que deflagrou no lugar de Lagido, em Verim, colocou também várias habitações em perigo. O combate foi realizado por 16 bombeiros, 5 GIPS e um helicóptero. Iniciado pelas 12h56, o incêndio foi dado como dominado pelas 17h15.

Dia trágico
O primeiro dia de Setembro foi trágico. Um camião dos bombeiros da Póvoa de Lanhoso viu-se envolvido num acidente com uma motorizada, na Avenida dos Penedos, em Águas Santas, do qual resultou a morte do condutor do motociclo. Alfredo Matos, de 59 anos, conduzia a sua motorizada em direcção ao incêndio quando o trágico acidente aconteceu. Os contornos do acidente estão a ser apurados pelas autoridades. Residente em Crespos, no concelho de Braga, Alfredo Matos tem família na freguesia de Águas Santas, onde já residiu com seus pais e irmãos. O ferido foi socorrido pelos Bombeiros Voluntários da Póvoa de Lanhoso e equipa médica da VMER de Famalicão, tendo sido transportado ao Hospital de Braga, onde veio a falecer horas mais tarde.
Durante o combate às chamas, pelas 22 horas, em Monsul, uma viatura dos Bombeiros tombou. De acordo com o que foi possível apurar, a viatura vinha reabastecer quando tudo aconteceu.
O incêndio e a notícia do acidente trouxeram dezenas de pessoas a Águas Santas. Para facilitar o acesso da viatura médica e GNR impediu a circulação de viaturas desde o cemitério até ao local do sinistro.
Em Monsul, vários populares relataram que a grande afluência de viaturas trouxe também dificulda-  des  à circulação das viaturas dos bombeiros, com a GNR a ter que intervir.
Um pouco de história
“5 de Setembro”, dia do reconhecimento
Nos inícios do século XX, fruto do empenho de um conjunto de “brasileiros” tocados pelo vírus da benemerência, o concelho da Póvoa de Lanhoso começou a receber algumas obras de grande interesse comunitário entre as quais se contavam a construção de várias estradas, a edificação de escolas e igrejas ou o arranjo de espaços públicos.
De um grupo de cerca de duas dezenas de ex-emigrantes no Brasil que, um pouco por todo o concelho, investiram dinheiros próprios em favor de todos, e dentre os quais se destacaram especialmente Barbosa Castro, Pereira Pires, Domingos do Vale, João António de Matos, os viscondes de Taíde e de Porto d’Ave ou Francisco Antunes de Oliveira Guimarães, tomou especial importância António Ferreira Lopes, astro maior da benemerência concelhia, sempre apoiado e animado pelo coração magnânimo de sua esposa, D. Elvira de Pontes Câmara Lopes.
Riquíssimo e sem filhos, este casal deu-se ao bem-fazer, dotando a terra de uma casa de espectáculos, de um bairro para operários, de prémios escolares, de um jardim público, de estradas, de muito dinheiro para a modernização de estruturas municipais, à sustentação de uma banda musical, à protecção de dezenas e dezenas de famílias pobres e à criação de prémios escolares, merecendo destaque o legado que, após a morte de António Lopes, em 1927, possibilitou a construção da escola primária da vila, da estrada de acesso ao monte do Pilar e do edifício dos paços do concelho. Pelo meio, não podemos esquecer as suas obras maiores: a fundação de um hospital, em 1917, e a criação da Corporação dos Bombeiros Voluntários da Póvoa de Lanhoso, em 1904-1905. Afinal, as duas instituições que, desde há muitas décadas a esta parte, fazem do dia 5 de Setembro de cada ano o dia do reconhecimento da obra desse casal ímpar na história da terra.
Corporações de Bombeiros existiam já em vários concelhos vizinhos, criadas nos finais do século XIX. Nessa mesma altura, lamentava-se no jornal “Maria da Fonte” que as elites concelhias se não interessassem também pela fundação de um corpo de bombeiros na vila da Póvoa pois, alegava o autor da prosa, os fogos urbanos deviam ser combatidos por quem estivesse preparado para tal e não, como ia acontecendo, por magotes de populares que, apesar de toda a boa vontade, estragavam por vezes mais que o próprio fogo.
Por isso, quando a meio do primeiro lustro do século XX António Lopes decidiu investir parte da sua fortuna para dotar a Póvoa de uma casa de espectáculos (o Theatro Club), destinou o rés-do-chão do edifício à instalação de “uma casa da bomba”. Do seu bolso pagou os materiais necessários ao funcionamento, os fardamentos e os veículos de tracção animal, tendo a parte operacional ficado sob a responsabilidade de seu irmão Emílio António, que foi o primeiro comandante. Os bombeiros começaram, pois, o seu percurso formativo em1904, estando já presentes na festa de inauguração do Theatro Club em 1905.
A corporação desenvolveu desde logo um trabalho meritório, mas, aos poucos, a falta de interesse de alguns levou a que esfriassem os ânimos. Em 1911, por falta de voluntários e de vontade das elites, estava o corpo inactivo pelo que, no ano seguinte, ainda com dinheiro de António Lopes, foi a mesmo refundada. Henrique Rocha e Júlio Celestino foram encarregados de, enquanto comandantes, instruir os novos recrutas, ao passo que novos estatutos foram redigidos por um grupo de homens da terra, entre os quais se encontravam José Cândido Sampaio Rebelo, João da Silva Mouta, João Bastos e João António Vieira Antunes, entre outros.
Esta de 1912 não foi a única crise dos bombeiros da Póvoa. Mas foi, talvez, a mais importante, a ponto de, em vários documentos oficiais, nomeadamente em ofícios da administração do concelho, a fundação da corporação povoense ser dada como tendo acontecido neste ano.
Os bombeiros da Póvoa ultrapassaram sempre todas as crises. E a corporação foi-se afirmando como uma das mais importantes e queridas as-sociações de raiz local, e conquistando, em simulacros realizados um pouco em todo o norte do país, como uma das melhor preparadas para desempenho do seu míster.
Ao seu serviço, como soldados da paz, como dirigentes e como elementos de comando passaram, ao longo deste mais de um século de existência, centenas e centenas de homens e de mulheres que sempre deram o melhor de si para que a corporação a todos pudesse servir com as necessárias condições: homens e mulheres – os do passado e os do presente – que merecem um muito obrigado de todos os povoenses porque, mantendo viva a corporação, permitem a todos nós uma maior segurança: há sempre do outro lado do telefone uma voz que não pergunta a que partido, religião ou “raça” pertencemos quando lhes ligamos a pedir ajuda.
Obrigado, bombeiros. E parabéns pela comemoração de mais um “5 de Setembro”.
António Lopes, o grande benemérito povoense, nasceu no actual lugar de Pomarelho, vila da Póvoa de Lanhoso, em 16 de Abril de 1845. Emigrou para o Brasil ainda menino onde, no sector do comércio dos cereais, dos couros e especialmente no dos cafés, fez fortuna. Voltou a Portugal em 1888, riquíssimo, dando então início a uma obra de benemerência que marcou a sua terra para sempre. Sua esposa, D. Elvira Câmara Lopes, nasceu no Porto em 5 de Setembro de 1856. Pelo amor que votava a sua mulher, António Lopes escolhia sempre que possível este dia para as inaugurações das obras feitas na terra, homenageando assim aquela que foi a sua companheira de uma vida. Por isso se continua hoje, e bem, a comemorar o 5 de Setembro como o dia das duas instituições maiores que António Lopes criou nesta terra – os Bombeiros e a Misericórdia.  
 *Historiador